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VACINA NACIONAL É BOA PARA IMUNIZAR CÃES?

2021-10-21 17:03:30
Labovet
14
May2019
vacinanacional-blog

Ainda paira um estigma antigo e pouco fundamentado sobre a qualidade das vacinas para cães produzidas no Brasil. A construção da imagem negativa iniciou-se na década de 1970 em um momento que a baixa capacidade técnica e obscuridade na legislação abriu margem a aventuras perigosas com a saúde de animais.

Soma-se um outro aspecto relativo ao processo de comercialização de vacinas que sendo pouco ou não fiscalizado permitiu que locais insalubres e sem supervisão técnica realizassem a venda e aplicação de imunobiológico para um animal com sanidade desconhecida.

Deste modo é possível entender que a construção da imagem negativa sobre a qualidade de vacinas nacionais tenha tido algum respaldo, ainda que outros aspectos sanitários e imunológicos fossem ignorados. Todavia vive-se no século XXI uma nova realidade na produção deste produto significativo à saúde animal e humana.

A legislação brasileira contempla aspectos sobre as formas de produção, níveis de garantia, controle de lotes, testes de eficácia e efetividade das vacinas, permitindo assim que haja um padrão do produto que chega aos profissionais e aos tutores de animais. Logo, cabe agora refletir sobre aspectos epidemiológicos das doenças, imunológicos do animal e da forma de comercialização entendendo que o Ministério da Agricultura possui profissionais capacitados para autorizar e atestar os produtos que serão comercializados.

Retoma-se aqui a questão da venda de imunobiológicos. De acordo com a resolução 670/2000 do Conselho Federal de Medicina Veterinária, os estabelecimentos veterinários podem comercializar vacinas desde que possuam equipamento de uso exclusivo para conservação de vacinas, antígenos e outros biológicos. Já no Decreto 5053/2004, define-se que qualquer local que comercie produtos veterinários deverá possuir responsável técnica(o) Médica(o) Veterinária(o).

As legislações dos serviços de defesa animal dos estados poderão apresentar medidas aplicáveis em cada local, sem se sobrepor a legislação nacional. Sendo assim, todo processo de dispensação e aplicação de vacinas deverá ocorrer sob supervisão e/ou execução de profissional da Medicina Veterinária, algo que sabe-se que não ocorre em sua integralidade. Seja pela falta de fiscalização ou descaso com a lei, há ainda quem compre e venda vacina sem os cuidados adequados.

Tem-se aqui uma primeira lacuna para uma imunização adequada que não apresenta correlação com a qualidade da vacina que chega ao local de venda. A maneira que a vacina permanece nesses ambientes não vistoriados, a forma de aplicação da vacina e a indiferença às características do cão trazem razão para falhas vacinais. Logo, cabe a reflexão para todos os laboratórios, nacionais ou multinacionais: Vale a pena vender todo seu processo técnico-científico em um local onde ele não possa demonstrar sua eficácia?

A capacidade técnica adquirida com anos de estudos e de vivência clínica traz aos colegas clínicos de animais de companhia a capacidade, após todo exame físico e anamnese, de decidir se o animal está apto para iniciar a imunização. Caso esteja, caberá também ao Médico Veterinário ou Médica Veterinária preparar e aplicar a vacina, mantendo-a em condições onde não haja perdas do quantitativo de antígenos responsáveis por conferir imunidade aos animais.

A população, em grande parte, que consome as vacinas nacionais é composta por indivíduos de classe média a baixa renda. Pessoas que querem garantir a sanidade e bem-estar para esses animais com um custo mais acessível. São animais que não possuem uma rotina de assistência veterinária, são criados semi-domiciliados com grande contato com os mais diferentes cães. Essas características epidemiológicas são fatores de risco para maior exposição e transmissão de patógenos, caracterizando assim uma população canina mais vulnerável. Algo que é menos frequente no conjunto de cães imunizados com vacinas importadas, os quais são animais com baixa exposição a patógenos por terem pouco ou nenhum contato com outros cães. Essa discrepância no desafio imposto aos animais imunizados também deve ser considerado para análise de um programa de vacinação.

A partir dessas características surgirá a dúvida: E se as vacinas, brasileiras e importadas, forem expostas às mesmas condições, apresentarão resposta semelhante? Essa foi a hipótese que norteou estudo desenvolvido pelos autores executado na cidade de Uberlândia, Minas Gerais.

A partir de um conjunto de 60 cães abrigados na Associação de Proteção Animal (APA) os pesquisadores desenvolveram um ensaio clínico randomizado controlado, onde um grupo foi imunizado com uma vacina nacional, Elevencell Labovet, e o outro com uma vacina importada, cuja marca não se obteve autorização para publicação, sendo essa última o grupo controle. Foram avaliadas as respostas para três doenças que tem a imunização considerada essencial no Brasil: cinomose, parvovirose e hepatite infecciosa canina

Destaca-se as características do estudo por envolver um local de grande fluxo de animais permitindo maior exposição aos agentes infecciosos de interesse. A garantia de distribuição aleatória dos animais dentro dos grupos controle e tratamento, e o cuidado com o mascaramento duplo, onde nem o animal nem o profissional sabiam o tratamento que foi aplicado.

Os resultados detalhados de cada antígeno não podem ser declarados devido à questões de autoria, pois o trabalho encontra-se no prelo de uma revista cientifica internacional. Todavia pode-se elucidar a hipótese acima apresentada com a seguinte afirmação: Sim, as vacinas quando são expostas às mesmas condições irão promover respostas imunológicas iguais nos animais, contrapondo o paradigma da ineficácia das vacinas nacionais.
A complexidade de fatores que determinarão a eficácia de um programa de imunização não será esgotada com um único experimento, mas sua análise permite afirmar que se vivencia uma nova era na vacinação de cães diante da opção de novos imunógenos nacionais com qualidade e eficácia certificados.